sexta-feira, 7 de maio de 2010

A vitória da Tropa de Elite

Animados pelo sucesso de bilheteria dos filmes Cidade de Deus e Tropa de Elite, os seus respectivos diretores, José Padilha e Fernando Meirelles decidiram partir para o ataque ao Cinema Novo, procurando acertar o maior cineasta brasileiro de todos os tempos, o genial Glauber Rocha. Posaram juntos para a capa da revista Bravo e com discursos afinados, defendiam basicamente a repressão aos usuários de drogas, sua culpa no tráfico, com discurso semelhante ao do herói de Tropa de Elite, Capitão Nascimento, e às novas diretrizes do cinema brasileiro, mais popular e lucrativo, bom aluno da escola americana.

O grande diretor Roman Polansky, certa vez, afirmou que Hollywood introduziu no cinema uma espécie de tempero que viciou os espectadores do mundo todo de tal forma, que os deixou para sempre dependentes dele. Da mesma forma que já não são capazes de comer um hamburguer sem ketchup ou mostarda, não conseguem mais ver um filme sem as características dos blockbusters americanos. O espectador viciado no cinema americano, maior indústria de entretenimento do mundo, está dependente da sua velocidade, da previsibilidade de seus roteiros acelerados, com lutas, sexo, com o bem e o mal claramente contrapostos, um final com pistas de que terá em breve uma continuação...enfim, tudo aquilo que podemos identificar tanto no Homem de Ferro, quanto em Tropa de Elite, ou Cidade de Deus, o seu outro lado da moeda.

Glauber Rocha acenou nos anos 60 com a possibilidade de um cinema brasileiro diferente: reflexivo, sério, politizado, e muito inventivo. O seu lema: "uma idéia na cabeça e uma câmera na mão", inspirou cineastas do mundo todo. O cinema brasileiro com o Cinema Novo, influenciava brasileiros como Caetano Veloso que depois de assistir Terra em Transe em 1967 irá compor a canção Tropicalia, marco inicial do movimento tropicalista.

E esses dois diretores inspiram quem? Milícias neo-nazistas, políticos autoritários, jovens advogados, bandidos ou policiais, quem?

Assisti Tropa de Elite no Alameda, situado no bairro Alto dos Passos, reduto da burguesia de Juiz de Fora. Entre refrigerantes e pipocas, meninos e meninas bem jovens se divertiam com o terror dos policiais do Bope em ação nos morros cariocas. Na tela, o capitão Nascimento, batia em traficantes e usuários de drogas: a cada tapa , uma gargalhada. Quando o capitão Nascimento pedia o saco para asfixiar os inimigos, o cinema quase vinha abaixo. Terminada a operação policial tocava uma canção de um desses grupos de hoje, talvez do Detonautas, que diz: "Tropa de Elite, osso duro de roer, pega um, pega geral, também vai pegar você". E o público cantava junto como se fizesse parte da Tropa. No entanto, só faziam parte da elite, totalmente insensível, como o próprio diretor Padilha. Eis as "obras primas" dos nossos diretores Padilha e Meirelles. Em Cidade de Deus pelo menos, há um enfoque maior na dramática história do bairro, contudo a recepção, só não foi contrária ao filme graças ao ritmo acelerado da trama, e o faroeste urbano, que não perturbava o público e suas pipocas com reflexões, vazios e silêncios.

Com o triunfo absoluto dos Estados Unidos e do cinema americano, ninguém quer ir ao cinema para pensar. Aliás, quem se preocupa em pensar? O alívio é não pensar, esquecer...acreditar que o capitão nascimento está aí, "O Bope existe", assim como o exercito americano e os seguranças, os automóveis, o dinheiro, o emprego, a fazenda, o fazendeiro...

2 comentários:

  1. "E a gente vai levando..."

    O sistema de educação vigente já há algumas décadas, tem muito a ver com toda essa história de "dormência crítica". Definitivamente, as pessoas perderam o senso do ridículo, caro Bustamante. Só a poesia salva a república!!!

    E "sobre as cabeças os aviões..."

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  2. Parabéns, Pedro, pelo seu blog!
    Não sou entendido em cinema, mas também sinto a nostalgia de uma poética presente no cinema novo, e suas raízes na nouvelle vague, no realismo italiano... Mas o que vitimou a poesia no cinema foi mesmo o capitalismo, exacerbado em sua vertente financeira e globalizada. O cinema americano também é vítima disto, na medida em que existem ali, marginalmente, boas produções cheias de poesia, também... Tenho gostado muito dos filmes argentinos e iranianos que tenho visto. A poesia é teimosa, assim como a pintura e a música, igualmente vítimas desse sistema econômico impiedoso e auto destruidor.

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