segunda-feira, 10 de maio de 2010

Reflexos da Colônia

É lugar comum dizer que a Bahia é negra, entretanto, ao conhecer algumas cidades no extremo sul da bahia, me surpreendi com uma bahia diferente, sobretudo indígena.

Falo de Cumuruxatiba, Corumbal e Caraíva. Entre Corumbal e Caraíva há uma grande reserva indígena, com uma grande aldeia onde vivem trezentas familias. Entre o mar e o Monte Pascoal, o mítico lugar dos primeiros contatos. A sensação que tínhamos é de que a colonização ainda estava se processando. Era interessante ver tantos índios. Muitos deles já vivem como os demais brasileiros, mas quando se conversa um pouco com esses, é comum ouví-los dizer que nasceram na aldeia, e se perguntarmos, muitos saberão falar alguma coisa na língua do seu povo.

Há também aqueles que vivem nas aldeias, isolados, dentro da sua comunidade, familiar e exótica, ao mesmo tempo, para todos nós. A aldeia se integra à vida econômica da região através de suas crianças e senhoras que vendem artesanatos próximos aos seus colegas hippies. Os índios teimam em ficar ali. A notícia que eu tive é de que eles reconquistaram o monte pascoal, o que não deixa de ser emblemático. Finalmente, o monte que já tinha sido citado na primeira carta de Caminha. Apropriado pelas palavras em português se tornou a primeira posse de Portugal. Contudo, os índios, 509 anos depois reconquistaram-no. Vida longa aos brasis, vida longa. Um dia desses, na reserva de Caraíva, fiquei olhando três crianças desenhando. Dois índios e uma índia. Fiquei curioso pra saber o que eles desenhavam, então, acompanhei os seus traços e ví crescer no papel a imagem de uma caravela. Eureka! O descobrimento ainda estava se processando eu testemunhava tudo isso num desenho. Até então me parecia que aceitáramos o acordo de Mefistófeles e deixamos o Brasil pra trás. Pelo menos os Índios, os brasis.

Mas eles estavam ali. E quando anunciaram Belo Monte com pompa e propaganda, com o aval dos engenheiros, não foi nenhuma surpresa, eles também estavam ali. E por mais que sigamos para sempre a ordem do progresso, e deixemos tão poucos, eles para sempre estarão ali. Para sempre aqui. Brasileiros não, brasis.

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