terça-feira, 22 de junho de 2010

Inventores X Herdeiros: O caso Otto

Existem dois tipos de artistas: os que inventam e aqueles que herdam. Adaptando o velho ditado: pai rico, filho nobre, neto pobre, podemos arriscar: pai inventor, filho parceiro, neto herdeiro. Eis a triste sina da música popular brasileira.

- Como reverter esse processo?

Primeiro é preciso dar mais atenção à inventividade que ainda podemos encontrar em alguns de nossos artistas.

No movimento Mangue Beat, último respiro da música popular brasileira, Chico Science e seus parceiros de Recife reativaram o interesse no Maracatu, através da introdução de suas caixas e alfaias à música brasileira reinventada pelo rock dos anos 80 e já marcada pela influência da música eletrônica. Na dicção, a modernização do repente nordestino os distancia da fala do Rap, e assim, ainda na palavra cantada, se inserem no universo da canção.

O cantor e compositor Otto, por ser, mais que herdeiro, um dos próprios inventores do movimento posto em questão, e é claro, por continuar procurando e inventando dentro do universo da canção, é um músico que merece a nossa atenção.

Menos repentista que Chico, a música de Otto é marcada por melodias belíssimas cantadas com sotaque recifense, em letras ao mesmo tempo densas e criativas. Na mídia, a diferença de Otto dos demais artistas, chega a ser constrangedora. Acostumados à mesmice e ao paradoxo do artista recalcado, Otto, para muitos, parecerá louco. Aqueles que apesar do medo insistem em inventar, infelizmente, ainda estão sujeitos a qualificações como essa. O artista inventor Arnaldo Baptista, criador dos Mutantes, enfrentou durante boa parte da sua vida violências como essas e outras mais e ainda é capaz de inventar. Força Otto!

Diante da cegueira generalizada aquele que ainda vê, delira.
Saravah Saramago!

* Todos os discos do Otto estão disponíveis em streaming em: www.radiouol.com.br

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