No cenário artístico/cultural brasileiro, a promulgação das
ditas leis de incentivo à cultura vêm invertendo a ordem das coisas. Fato é: o
acesso aparentemente democrático às leis de incentivo tem transformado não-artistas
em artistas como num conto de fadas. Sorrateiramente, o aspirante pode muito
bem preencher um edital e esperar a relação dos projetos aprovados sem que esse
tenha precisado tentar qualquer tipo de aproximação com o seu público.
Esse artista não precisa mais do público. Sabe por quê? Já
está tudo pago. Não são os shows que garantirão o devir da banda, nem a
bilheteria o sucesso do teatro e do cinema, não são as vendas que justificarão
a publicação de mais um livro. Dessa
forma, quando contemplado, o novo artista se pergunta: vender pra quê e pra quem?
Promover para quê e para quem? Fazer show pra quê e pra quem? Até que baixa o
Macunaíma e: " ai que preguiça”.
Aquela história do Milton de que “todo o artista tem que ir aonde
o povo está”, já era. Os mais evidentes artistas são aqueles que vão aonde estão as leis de incentivo. E, se quem aprova ou
desaprova é uma comissão julgadora nomeada pelo executivo, é claro que sempre
haverá algum patrulhamento ideológico dos projetos. Certas coisas não podem ser
ditas, deve-se valorizar a contrapartida social, os grupos artísticos tradicionais,
a identidade local etc. Ainda há o favorecimento dos correligionários, claro.
Mas, como num conto de fadas, o feitiço logo se desmancha e o
artista sem a verba percebe que não consegue mais criar, que perdeu suas
forças. E então só lhe resta voltar ao
velho ofício e esperar uma nova chance ou um próximo edital.
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