sábado, 1 de setembro de 2012

O “artista” e as leis de incentivo

No cenário artístico/cultural brasileiro, a promulgação das ditas leis de incentivo à cultura vêm invertendo a ordem das coisas. Fato é: o acesso aparentemente democrático às leis de incentivo tem transformado não-artistas em artistas como num conto de fadas. Sorrateiramente, o aspirante pode muito bem preencher um edital e esperar a relação dos projetos aprovados sem que esse tenha precisado tentar qualquer tipo de aproximação com o seu público.

Esse artista não precisa mais do público. Sabe por quê? Já está tudo pago. Não são os shows que garantirão o devir da banda, nem a bilheteria o sucesso do teatro e do cinema, não são as vendas que justificarão a publicação de mais um livro.  Dessa forma, quando contemplado, o novo artista se  pergunta: vender pra quê e pra quem? Promover para quê e para quem? Fazer show pra quê e pra quem? Até que baixa o Macunaíma e: " ai que preguiça”.

Aquela história do Milton de que “todo o artista tem que ir aonde o povo está”, já era.  Os mais evidentes artistas são aqueles que vão aonde estão as leis de incentivo. E, se quem aprova ou desaprova é uma comissão julgadora nomeada pelo executivo, é claro que sempre haverá algum patrulhamento ideológico dos projetos. Certas coisas não podem ser ditas, deve-se valorizar a contrapartida social, os grupos artísticos tradicionais, a identidade local etc. Ainda há o favorecimento dos correligionários, claro.

Mas, como num conto de fadas, o feitiço logo se desmancha e o artista sem a verba percebe que não consegue mais criar, que perdeu suas forças.  E então só lhe resta voltar ao velho ofício e esperar uma nova chance ou um próximo edital.

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