quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Caetano Veloso & Ivan Sacerdote - efêmera flor

Escuto agora o novo disco de Caetano. Neste, voltamos a crueza do violão e da voz de Caetano, tão cristalinos em dois grandes álbuns lançados neste formato nos anos 80: Totalmente Demais e Caetano Veloso  (1986) e que agora, efêmera flor, se faz mais rouca, mais fosca, de outra beleza. Com a sutileza e o talento de  Ivan Sacerdote, fica tudo muito bonito.

Fiquei ouvindo, olhando a capa, e era como se a foto ganhasse movimento. Que capa linda. Parece uma daquelas capas americanas de grandes discos de jazz. Faz lembrar também, é claro, do disco de João Gilberto com Stan Getz. Mas dessa vez não há espaço para o triunfo do instrumento sobre o músico, que por sua vez também significava o triunfo do Jazz sobre a Bossa Nova, o triunfo da improvisação sobre o esmero melódico. O triunfo forçado pelo apelo da improvisação e pela sobreposição do volume do sax de Getz à voz diminuta de João.

Neste disco o papo é outro. Não é briga, é conversa. Não se briga para ver quem é o sujeito da ação. A voz, como de praxe na canção, é quem faz a guia. O violão é quem dá o ritmo e a harmonia. O clarinete de Ivan, brilhante e respeitoso, majestoso, adorna sem afetar o núcleo duro da soberana canção.

É uma boa notícia do ano de 2020. Mais um pontinho de luz a piscar nestas trevas. Como o que vem de Petra. Boto fé que esses pequenos e vagos lumes ainda vão iluminar as mentes enclausuradas nas cidades.

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