domingo, 26 de julho de 2020

Durú e Chadas - Tempo de Sonhar

As notícias foram chegando até a mim: havia um casal de turcos muito simpáticos tocando jazz e choro no Calçadão. Meus parceiros d'O Banco estavam todos encantados, de semana em semana mais um deles os conheciam. Um dia chegou a minha vez.

Depois de uma noite em claro, em que tudo parecia assustadoramente estranho, voltava para casa depois de uma farra sem sentido algum e bateu aquela angústia que me fez evitar a cama. Resolvi, voltar pra rua, e pelo telefone chamei um amigo que estava comigo na mesma noite e também não devia estar dormindo. Bingo! Estava ele acordado e perdido no centro da cidade. Marcamos de nos encontrar.

Andamos pelas ruas da cidade que amanhecia cheia de fôlego. Enquanto isso, as cores do nosso crepúsculo nos iluminavam. Sábado, o centro da cidade de Juiz de Fora em festa, e nós flanando: no direction home.

Primeiro, o choro da clarineta, depois, as cordas do violão, e nós, que caminhávamos sem direção, fomos guiados por aquele som maravilhoso. Sentados na porta de um banco fechado, os nossos futuros amigos Chadas e Durú tocavam no calçadão músicas turcas, choros e standards do jazz com um amor tão grande que nos maravilhou de imediato. Sentamo-nos vizinhos a eles, e nos deixamos levar por seus caminhos musicais. Dissipava-se aquilo tudo que me atordoava. A música me consolava e indicava novos caminhos. O amável casal, com seu discurso melódico, questionava o meu ser inteiro, enquanto que eu, covicto, resolvia me entregar por inteiro a eles.

Enquanto tocavam, vendiam o CD Hora de Sonhar que conseguiram gravar no Rio. O título do disco, aliado à música que faziam, alargavam meus horizontes e transformavam o crepúsculo em alvorada. Era tempo de sonhar, ainda mais nesse momento, que tínhamos mais dois novos amigos, diferentes de todos os outros. Jovens músicos andarilhos muito especiais.

Quisera o destino trazer da turquia esses dois jovens para a América Latina, fazendo-os conhecer a Bolívia e a Argentina, sempre tocando pelas ruas. Quisera o destino lhes apresentar o choro e a música brasileira, num caminho que os levaria a Egberto Gismonti e a Hermeto Paschoal, e que tornaria o Brasil um destino certo. 

Vieram para São Paulo, pequeninos na cidade imensa, partiram para o Rio. Ainda pequeninos, buscaram outras esquinas em cidades mais acolhedoras. No Rio, contudo, conseguiram, gravar um CD, levados ao estúdio, numa coincidência incrível, pelo pai do flautista da nossa banda, que lhes aconselhou Ibitipoca.

Foram eles para Minas Gerais, onde fincaram suas raízes. Lima Duarte, Ibitipoca, não mais pequeninos, encantavam os mineiros e faziam novas amizades. Vieram para Juiz de Fora e estavam no calçadão, naquele dia de sábado, quando suas músicas vieram me acalmar.

https://drive.google.com/uc?export=view&id=1_VLhLEDgNCSFHOz4jp6blWOKZ_eoP4U6

2 comentários:

  1. Fiquei muito emocionada Pedro! lembrei momentos mais bonitos da minha vida, foi realmente muito magico encontrar muitas pessoas maravilhosas, fazer parte de uma historia, valeu total!!
    e uma correção o nome do disco era "hora de sonhar" mas pode ser o tempo tambem, as duas fica bonito.
    um abraço enorme!!! voce me jogou dentro de um sonho que esta guardado no tempo!!muito bom lembrar de esso.
    beijão pra sua familia e um abraço pra bebezinho que vai nacer!!
    duru

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  2. Durú, que bom que o texto chegou até você, fiquei muito emocionado lendo o seu comentário.
    Corrigi no texto o nome do CD e deixei o meu erro no título do texto, pois também tem haver. Beijo Grande! Obrigado.

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