sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Delírio no Cine-Theatro Central

Já estava mesmo com muita saudade do principal teatro da minha cidade, todavia, continuava a bater o pé: enquanto não anunciassem um espetáculo que estivesse à altura do Central, não voltaria.Vinham padres cantores, artistas de pouca expressão, comediantes, mas não vinha nenhum dos espetáculos que se comentavam com mais ênfase no eixo Rio-São Paulo. Resultado: passei o ano inteiro batendo o pé. Para assistir a algum show tinha mesmo que viajar.

No entanto, toda vez que eu ia ver algum show fora, lembrava dos bons tempos do Central. Quando o teatro estava na agenda dos principais artistas do país. Não esqueço do show de João Gilberto, na reinauguração do Teatro, do Gil trazendo Quanta, Caetano com Prenda Minha, Chico Buarque com a pré-estreia de As Cidades, Cássia Eller com seu show Acústico MTV, enfim, um tanto de shows inesquecíveis que assistimos depois de passear pelo Calçadão da Halfeld e, o que é melhor, sem precisar pegar a BR.

Acho que se não fosse por ontem, quando tive o privilégio de assistir à pré-estreia do show de lançamento do disco Delírio de Roberta Sá, continuaria esse texto apenas lamentando o ocaso do Cine-Theatro Central. Mas, felizmente, aconteceu o que parecia impossível. E como diz Chacal: "só o impossível acontece".

Em suma, fomos presenteados com a pré-estreia de um dos shows mais esperados no Brasil. Assistimos ao início de uma turnê que percorrerá o Brasil e o exterior. Testemunhamos o nascimento de um espetáculo que é capaz de mostrar ao mundo do que somos capazes em matéria de música, de samba, de canto e de canção. Roberta Sá firma-se no cenário como uma das maiores interpretes em atividade no Brasil. E só uma interprete é capaz de fazer uma canção tornar-se um acontecimento. Assim, podemos dizer que ontem, aqui em Juiz de Fora, aconteceram várias canções.

Aconteceu "Me erra", samba de Adriana Calcanhotto, aconteceu "Um só lugar", canção de César Mendes e Tom Veloso, aconteceu  "Se for pra mentir", samba de César Mendes e Arnaldo Antunes, aconteceu  "Amanhã é sabado" samba inédito de Martinho da Vila, aconteceu Delírio, samba-reggae de Rafael Rocha . Todas essas aconteceram, talvez pela primeira vez aqui, ou, pela primeira vez nesse show, diante dos nossos corpos, dos nossos olhos, dos nossos ouvidos extasiados diante de uma interprete em ascensão candente e de uma banda de encher os olhos. Nada mais, nada menos do que Marcos Suzano e Paulino Dias (percussão), Alberto Continentino (baixo), Luis Barcelos, (bandolim e cavaquinho), e de Rodrigo Campelo (violão, guitarras e produção musical).

Mais uma vez sob a direção primorosa de Rodrigo Campelo, Roberta Sá nos mostra uma trilha vigorosa para o samba, para a música brasileira, para a canção, para além dos tradicionalismos e dos ditames do mercado. Mostra-nos que seu palco continua um braseiro. E que o Brasil e o mundo não perdem por esperar.

Sem mais, voltei cantarolando: "de virada eu desço o queixo e rio amarelo"!




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