quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Samba al sugo? A presença da canção italiana na canção popular brasileira


PROPP - Pesquisa

 


Título do Projeto
Samba al sugo? A presença da canção italiana na canção popular brasileira
Coordenador do Projeto:
Prof. Dr. Pedro Bustamante Teixeira

Equipe:
Prof. Dr. Alexandre Graça faria
Profa. Dra. Márcia Almeida


1. Justificativa/Caracterização do Problema
O presente projeto vincula-se a uma pesquisa ampla sobre o estudo da canção no Brasil, desenvolvida pelo proponente desde a especialização, com o estudo de uma nova perspectiva para a leitura da canção; passando pelo mestrado, onde se apresentou, com exemplos de leituras de canções emblemáticas, um caminho que vai do samba à bossa nova ( TEIXEIRA, 2015); até o doutorado, com o estudo da obra de Caetano Veloso entre os anos de 2006 e 2013 ( TEIXEIRA, 2017), e pretende agora investigar a contribuição da canção italiana, a partir da perspectiva da presença ( GUMBRECHT, 2010) na canção popular brasileira.
Ainda hoje o Italiano permanece como língua franca da música dita clássica. A grande maioria dos libretos operísticos foram escritos em italiano. As óperas de Mozart, de Carlos Gomes, de Wagner, eram cantadas em italiano. Com a chegada de meios de reprodução mecânica da música, no limiar do século XX, outros estilos ganham em popularidade trazendo consigo as canções que fariam do século XX o “Século da Canção” (TATIT, 2008). No Brasil, a gravação de “Pelo Telefone” para o carnaval de 1917 marca a passagem do samba folclórico para o samba moderno. De perseguido pelo Estado a símbolo do mesmo, o Samba torna-se o lugar do encontro de diversas identidades. Dentre elas, não é complicado constatar o elemento italiano, sobretudo no cancioneiro de Adoniran Barbosa.
Mais adiante, no limiar dos anos sessenta, o italiano se faz presente em duas frentes: de um lado há uma tradição romântica da canção italiana que servirá de influência, por exemplo, a um lado expressivo da dicção de Jerry Adriani e de Roberto Carlos,

Roberto Carlos realizou um oportuno sincretismo do iê-iê-iê romântico, magistralmente registrado nas melodias de Paul McCartney, com as baladas italianas que inundavam as paradas de sucesso dos anos 60 nas vozes de Pepino di Capri, Bob Solo, Nico Fidenco, Pino Donagio e Sergio Endrigo entre outros         (Tatit, 2002. p. 188).

Por outro, há a tradução italiana do rock anglo-americano que facilita o caminho entre a canção popular brasileira e o rock. Como não se lembrar de “Banho de Lua”, versão de “Tintarella di luna” gravada por Celly Campelo em 1960, mesmo ano em que fora lançada na Itália por Mina. Desde então, as canções italianas, no original ou em versões, começam a tocar nas rádios brasileiras tão naturalmente que quase não são percebidas como músicas estrangeiras ou como versões de músicas italianas. Ainda hoje o brasileiro se surpreende cantando ou assobiando canções italianas que tocam nas rádios ou nas novelas, como se fossem canções nacionais. Apesar de anos e anos de dominação cultural norte-americana, a língua italiana, neolatina como o Português, ainda hoje é mais transparente ao brasileiro comum do que o Inglês, por exemplo.
A enorme quantidade de imigrantes italianos que desembarcaram no Brasil não determinou o isolamento de um grupo, hoje as famílias italianas se encontram integradas à cultura brasileira. Com os imigrantes italianos aportou no Brasil toda uma cultura que até então só os mais letrados, sobretudo leitores de Dante, Petrarca e Boccaccio, tinham algum acesso. Desde então, o elemento italiano na música brasileira é constitutivo de um todo híbrido chamado de música popular brasileira. É ilustrativo que a canção “Oh! Minas Gerais” (José Duduca de Morais e Manoel Araujo), hino extraoficial do Estado de Minas Gerais, foi composta sobre uma tradicional melodia Napolitana “Vieni sul Mar”. Antes, no entanto, a mesma melodia já havia sido utilizada por Eduardo das Neves em 1912 em uma canção que homenageia o couraçado brasileiro batizado como Minas Gerais.
A partir da constatação da presença de um tempero italiano na formação da canção brasileira e, tendo-se em vista a ausência de estudos específicos sobre o tema, faz-se necessário medir a amplitude da presença da canção italiana na canção popular brasileira para se iluminar um lado ainda pouco trabalhado dentre os estudos acerca da história do cancioneiro brasileiro.


2. Objetivos
GERAIS:

. inventariar e catalogar o mais exaustivamente possível o repertório de canções italianas que foram vertidas para o português do Brasil, o repertório de canções brasileiras que foram vertidas para o italiano e o que foram gravadas por interpretes italianos em português.
. listar canções brasileiras que apresentam, seja na letra, na temática ou em sua parte musical, algum elemento da cultura italiana.
. catalogar em uma lista canções italianas gravadas por interpretes brasileiros.
. divulgar o cancioneiro italiano entre os alunos da Faculdade de Letras.
. facilitar o contato com os Estudos da Canção, epistemologia praticamente ausente nas disciplinas de literatura da graduação.

ESPECÍFICOS:

. investigar a construção da canção popular brasileira a partir do elemento italiano.
. organizar, a partir da perspectiva da presença, uma história da canção italiana no Brasil.
. construção de um suporte digital (blog ou site) como forma de acesso hipertextual ao repertório.

3. Metodologia e Estratégias de Ação

O projeto se baseia fundamentalmente na pesquisa de natureza bibliográfica, voltada ao mapeamento da contribuição da cultura italiana, ao longo da história, na cultura do Brasil, e discográfica, para se compor um repertório de canções em trânsito entre a Itália e o Brasil.  Eventualmente, pode-se cogitar lançar métodos diversos como entrevistas com autores e produtores culturais envolvidos com o tema abordado; levantamento de projetos públicos ou não, relacionados ao tema.
O projeto demandará, como primeira ação da pesquisa, o levantamento e a catalogação mais exaustivos possível do corpus existente. Para tal a pesquisa se desenvolverá a partir de três etapas. Primeiramente se fará uma série de listas: a primeira catalogando as versões para o português do Brasil de canções italianas, a segunda de canções italianas que foram gravadas por interpretes brasileiros, poder-se-á incluir nessa lista um acréscimo de canções de compositores brasileiros compostas em italiano, e por fim uma lista de canções brasileiras que trazem consigo algum tempero ítalo, seja na letra, na temática ou em sua parte musical. Como toda ponte não serve só para vir, mas serve também para voltar, em um segundo momento da pesquisa, se fará uma lista das canções brasileiras gravadas na Itália. Por fim, as canções listadas serão lidas e divididas em eixos temáticos. A partir de então poder-se-á recontar, a partir da perspectiva da presença, uma história da canção italiana no Brasil. 



4. Resultados e os impactos esperados

Os resultados da pesquisa podem-se expressar nos seguintes produtos, cujo objetivo e difundir o conhecimento produzido e estimular a discussão a fim de aperfeiçoá-lo:

a) Aprimoramento das atividades de orientação aos pesquisadores de IC e de Pós-Graduação.
b) Publicação de artigos em periódicos acadêmicos.
c) Apresentação de painéis e de comunicações em eventos acadêmicos da área.
d) Publicação de site ou blog com o repertório constituído com a pesquisa dividido em eixos temáticos e/ou cronológicos.
  
 5.    Referências Bibliográficas


ANDRADE, Mário de. Ensaio sobre a música brasileira. 3ª ed. São Paulo: Vila Rica: Brasília: INL, 1972.
BHABHA, Homi K. O local da cultura. Tradução de Myriam Ávila, Eliana Lourenço de Lima Reis, Glaucia Renate Gonçalves. Belo Horizonte: UFMG, 1998, 394 p. Título original: The Location of Culture.
CASTRO, Ruy. Chega de saudade: a história e as histórias da bossa nova. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, 459 p.
CAMPOS, Augusto de. Balanço da bossa e outras bossas. 5ª ed. São Paulo: Perspectiva, 1993, 354 p.
CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. Tradução de Heloíza Pezza Cintrão, Ana Regina Lessa; tradução da introdução Gênese Andrade. 4ª ed. 1. reimp. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006, 385 p.
GUMBRECHT, Hans Ulrich. Elogio da beleza atlética. Tradução de Fernanda Ravagnani. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. 182 p.
GUMBRECHT, Hans Ulrich. Produção de Presença: o que o sentido não consegue transmitir. Tradução Ana Isabel Soares. Rio de Janeiro: Contraponto: Ed. Puc Rio 2010. 206 p.

LACERDA, Marcos (org.). Música (Ensaios brasileiros contemporâneos). Rio de Janeiro: Funarte, 2016. 408 p.
NAVES, Santuza Cambraia. Canção popular no Brasil: a canção crítica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010. 159 p.
SANDRONI, Carlos. Feitiço decente: transformações do samba no Rio de Janeiro (1917-1933). Rio de Janeiro: Jorge Zahar: UFRJ, 2001, 247 p.
SANT’ANNA, Affonso Romano. Música popular e moderna poesia brasileira. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 1986, 268 p.
TATIT, Luiz. O século da canção. 2ª ed.Cotia: Ateliê Editorial, 2008, 251p.
TATIT, Luiz. O cancionista: composição de canções no Brasil. 2ª ed. São Paulo: Edusp, 2002, 323p.
TEIXEIRA, Pedro Bustamante. Do samba à bossa nova: inventando um país. Curitiba: Editora Appris, 2015. 177 p.
TEIXEIRA, Pedro Bustamante. Transcaetano: Trilogia Cê mais Recanto. São Paulo: Fonte Editorial, 2017. 208 p.
VIANNA, Hermano. O mistério do samba. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. UFRJ, 1995. 196 p.
WISNIK, José Miguel. Getúlio da paixão cearense (Villa-Lobos e o Estado Novo). In: SQUEFF, Enio e WISNIK, José Miguel. Música. São Paulo: 1982, p. 129-191.
WISNIK, José Miguel. O som e o sentido: uma outra história das músicas. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, 283 p.
WISNIK, José Miguel. O coro dos contrários: a música em torno da semana de 22. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1977, 188p.
WISNIK, José Miguel. Sem receita: ensaios e canções. São Paulo: Publifolha, 2004, 533 p.

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